A ÁRVORE (1)
A grandeza e a árvore
É um prazer passear à noite em dias temperados ou quentes, no caminho serpenteante da mata de sobreiros. Tirando as noites de lua cheia, que é como fazer o caminho com a iluminação eléctrica acesa quando estou acompanhado, vê-se, ao lusco-fusco, sob a canópia escura dos sobreiros, troncos plantados aleatoriamente, raras vezes rectos, com as pernadas tortuosas a projectarem-se nas copas. Aqui e além, entre os raros clareamentos a cintilação de algumas estrelas. Junto aos troncos as silhuetas de alguns arbustos. Ainda
mal se despediram as vozes das aves diurnas e já estão as nocturnas em actividade regular. Ouvem-se grilos e outros insectos ruidosos. De todos os lados vêm os sons dos estrecimentos das folhas, do ranger dos ramos, e de uma actividade multiforme de uma multidão de formas de vida anónimas.
À primeira vista uma árvore, como um sobreiro ou um carvalho cerquinho, é uma planta terrestre que difere das demais plantas terrestes pela simples razão de ter um enorme pau em madeira (o caule) a unir os órgãos subterrâneos (raízes) aos órgãos aéreos (folhas, frutos ou cones, frutos). Para sermos consequentes com esta definição poderíamos ser levados a concluir, erroneamente, que (i) "todas as plantas de estatura elevada são árvores" ou que (ii) "todas as árvores têm uma estatura elevada". Ora, não é esse o caso.
O lenho e a árvore
Em primeiro lugar, há plantas de grande envergadura que não são árvores. Tal é o caso das palmeiras, das bananeiras, dos bambus, de alguns cactos, dos fetos arbórios ou de algumas euforbiáceas. As palmeiras (da famíla Arecaceae) têm um caule do tipo 'estipe'. Tive no jardim três palmeiras das Canárias (Phoenix canariensis) que foram atacadas em anos sucessivos pelo escaravelho da palmeira (Rhynchophorus ferrugineus) que as deixou ocas, com as folhas a soltarem-se e a libertar um cheiro horroroso. Pensei em retirar-lhes os caules para depois arrancar as raízes e libertar o espaço para outras espécies. Deitei-lhes a serra mas era o mesmo que tentar serrar uma meada de cordas trançadas. Lá ficaram a apodrecer lentamente ate se começarem a desfaze. Os bambús (subfamília Bambusoideae da família Poaceae) têm um caule do tipo 'colmo', como o das canas e do milho. As bananeiras (género Musa) são portadoras de um pseudocaule, uma formação constituída por folhas sobrepostas. Cactos como o Saguaro (Carnegiea gigantea) têm portes gigantescos. Qualquer destas plantas é um exemplo de plantas herbáceas, ou ervas, gigantes. Logo a proposição (i) é falsa pois (i-a) "há plantas de estatura elevada que não são árvores". Nas árvores, o caule é lenhoso, é um tronco de madeira ou, mais precisamente, de 'lenho', o xilema secundário originado por actividade do cambium (ver tecidos). As árvores são plantas lenhosas e, fundamentalmente, é isso que as distingue das plantas herbáceas grandes como as palmeiras, os bambús e as bananeiras.
Existem árvores anãs o que contraria também a ideia de que todas as árvores são grandes. Um exemplo é uma espécie de bétula que vive na tundra do Ártico, a Betula nana. Ao contrário das restantes espécies do género, todas árvores, a bétula anã que atinge quando muito 1 a 1,2 m de altura.Também a proposição (ii) é falsa pois (ii-a) "há árvores que têm uma estatura diminuta".
Ser grande e ter um caule lenhoso são boas qualificações para fazer de uma planta árvore. Porém, assim como "nem todas as plantas de estatura elevada são árvores" convém tornar claro também que (iii) "nem todas as plantas com um caule lenhoso são árvores". Para designar as plantas lenhosas de menor porte usa-se o termo arbusto. 'Grande' e 'pequeno', 'maior' e 'menor' são obviamente termos vagos. Por isso, os botânicos (e, sobretudo, os práticos, como madeireiros, viveiristas, arboristas, jardineiros ou horticultores) convencionaram comprimentos arbitrários para distinguir um arbusto de uma árvore: uma árvore tem mais de 5 metros e um arbusto, reciprocamente, menos de 5. Acresce a isso que os arbustos começam a ramificar o tronco a partir da base. Aos que o não fazem, dizem-se arbustos de porte arbóreo. Mas há mais: porque o limite dos 5 metros é ele mesmo uma zona de vagueza, os arbustos maiores são referidos muitas vezes como árvores pequenas ou arvoretas e os mais pequenos como 'subarbustos'.
A botânica tem o seu módo próprio de enquadrar estas raríssimas excepções. Do ponto de vista botânico o que conta não é tanto a estatura da planta mas os processos básicos que permitem às plantas atingir essas grandes dimensões que, em certas espécies, como é o caso das sequóias da costa californiana (Sequoia sempervirens), se tornam descomunais.
O 'tronco' é o caule das árvores. Para que é que as árvores precisam de um tronco? Em que consiste um tronco? O que é que faz crescer e manter-se um tronco?