Aqui estou no pequeno mundo do colar esmeralda (" Emerald Necklace") e do Charles, o único sítio da América aonde aceitaria viver, salvo se estranhas ocorrências me forçassem a isso.
Cheguei estando à minha espera um calor simpático que se torna muito acolhedor quando a luz natural dá lugar, para usar um lugar comum, aos néons da cidade. Hoje está de chuva, dizem os bruxos que até à uma da tarde. Fiquei retido num café simpático a mandar fotografias para os amigos pelo Facebook e a fazer companhia à Graça que se esforça por trabalhar. Digo que se força, não por algum defeito moral como a preguiça ou a fraqueza, mas porque os édenes idílicos são contrários ao trabalho e é preciso pecar, comer maçãs, sei lá, para se começar a trabalhar a terra com as mãos e a ganhar a comidinha com o suor do rosto.
Atrás de mim, nas minhas costas, a Cambridge street.Ouve-se aqueles lamentos rápidos e acutilantes em crescendo decrescendo que os pneus das viaturas emitem em contacto com o piso molhado. À minha frente, vinda das paredes, a batida quase tropical de um quarteto de jazz onde sobressai o piano e o saxofone. A Graça acompanha o ritmo no teclado do seu Mac, alternando com as garatujas com que esferografica o seu caderno.
Estranhos pensamentos volatilizam-se à boleia do cheiro das sementes, ervas e especiarias que emanam dos bolos do balcão. Eles são os gatos e as gentes do Tremontelo, o por onde andarão os meus filhos e o resto da família, o braseiro que grassa na terra-mãe e a falta de chuva, as pequenas coisa de que me esqueci e que agora dariam um jeito danado, o que deixei por fazer e que terei que emendar rapidamente quando chegar, como e quando irá ser a próxima saída. Sim, que a ousadia de sair só me dá quando estou fora!
A lenta ternura do jazz aproxima-se do meio-dia.