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Conhecem o neutralino? Esta partícula não-bariónica é uma séria candidata a constituinte da matéria escura.
Tanto a matéria escura, como a energia escura, correspondem a cerca de 95% da massa do universo. A matéria comum, que nós vemos e palpamos, e que é constituída por átomos ( e estes por protões, neutrões e electrões), não chega a perfazer os 5%.
A matéria escura não se vê porque não reage com a radiação electromagnética (não produz, nem reflecte luz). Embora esteja altamente concentrada no centro das galáxias, expande-se um pouco por toda a parte e dilui-se na matéria comum. A sua presença é inferida pela atracção gravitacional que exerce sobre a matéria ordinária.
A matéria escura é acusada de ser responsável pela formação das galáxias e das estrelas nas regiões de maior concentração do neutralino. Actualmente, é também acusada do desvio das rotas das sondas espaciais Pioneer 10 e 11 (lançadas nos anos 70) e da aceleração da expansão do universo, fenómeno inexplicado pelas teorias gravitacionais comuns.
A escuridão é a regra, e a luz um fenómeno bastante raro, no nosso universo: e misturam-se. Errados parecem estar os velhos mitos e cosmogonias da antiguidade semita e indo-europeia. Na criação do mundo, o demiurgo não separou a luz das trevas. A escuridão está em todo o lado e agrega a luz.
Deveríamos repensar a religião natural, ateia e polipanteísta. O tempo é cíclico e não uniforme. Na ciclicidade do tempo repousa o refluir dos eventos, a alternância da vida e da morte, a processão das estações, a sucessão dos ritos agrícolas, as marés, as fases da lua. A religião natural ensina-nos que da morte sai a vida, da noite sai o dia, do útero sai a cria. A semente lançada à terra só germina na escuridão; na escuridão do útero germina o feto.
A escuridão é a condição do nosso referencial espácio-temporal. E um mundo a quatro dimensões é, porventura, um mundo muito estreito para conter o nosso espírito. Talvez a luz seja um epifenómeno, e a nossa compreensão do universo escassa e muito resumida.
Apagou-se hoje uma estrela e o firmamento não se deu conta. O nosso querido Zé C. deixou-nos sem se despedir. Ainda ontem brincávamos zombando do estresse da profissão.
Conheci-o há muito pouco tempo, mas o suficiente para o estimar muito. Andámos dois dias por essas serranias do Oeste, com o Francisco e o Joaquim P. Lá fomos, estrada fora, no sobe e desce colinas, a indagar reservatórios e estações elevatórias em sítios onde antes, provavelmente, estiveram moinhos.
Já não está, abandonou-o um corpo que teimou em não funcionar. Subsiste na memória dos amigos. Por quanto tempo?
Estamos próximos do Samhuinn lunar, o fim do Verão e do ano, início do Inverno, a metade escura do novo ano. Serão três dias de celebração, tempo sem tempo, descida ao reino da morte. Quis o despotismo cristão apropriar-se da celebração pagã subvertendo o Samhuinn no carnavalesco Halloween, num sensaborão dia de todos os santos e num triste dia dos defuntos. Da mascarada das cabaças e das guloseimas, às flores (de plástico) dos cemitérios.
Não deixaremos de cumprir o ritual. É forçoso que o deus morra e a deusa se retire para os confins da terra. Voltará, jovem e virgem, em Yule, para dar à luz o Filho. Todos os anos, enquanto subsistir no universo a raça dos homens e dos deuses.
Neutralinos, bosões e fermiões, zinos, photinos e higgsinos... Matéria escura. A inteligência que desvenda o mundo não traz a luz.
A luz verdadeira é a da vela acesa numa clareira da floresta. Um pavio encandescido, cera que derrete e se consome em chama.
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