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O Sítio do Tremontelo teve baptismo com pompa e circunstância. Mais a circunstância do que a pompa porque os tempos não estão para esbanjar. Não deu lugar ao descerramento de uma lápide, mas à afixação com cimento-cola de um painel de 6 lindíssimos azulejos. Digo lindíssimos com alguma vaidade, porque a sua execução corresponde exactamente à ideia que fiz deles. Mas vamos por partes, à boa maneira metódica como nos ensinou Descartes (que nessa matéria não errou), porque se estão a acumular num único parágrafo uma diversidade de assuntos.
Quem seguiu com alguma atenção os espécimes plantados nos canteiros deste hortículo blog, por certo topou que há cerca de oito anos descobri um pequeno canto no mundo, completamente desprezado e com ar miserando, que decidi pôr sob a minha protecção e cuidados. Como acontece em todas as histórias de amor, o sedutor virou seduzido.
Hoje, esse terreno tem uma vida própria, já não depende da minha vida. Pelo contrário, a minha vida depende dele.
Sendo um recanto de isolamento, é um recanto de encontros. Tenho lá amigos muitos; ele são gatos, melros, lagartos, cartaxos, cucos, picapaus, cobras, saca-rabos, ouriços, coelhos, perdizes, uma rã, muitos peixinhos e, recentemente, uma poupa. Tudo selvagem, nada de capoeira. Gatos, então, são uma sucessão de figurões com personalidade vincada, com quem tenho conversas apaixonadas, principalmente com o Tigre, um estudioso dos bípedes humanos, muito interessado em conhecer, e sobretudo em compreender, quer a linguagem falada, quer a mente humana e os seus construtos.
Quando regresso à grande cidade vejo os meus concidadãos com outro olhar; melhor, com um olhar outro. Ideologias, mitos, estereótipos, hábitos, condicionamentos, é tudo peneirado no crivo da crítica felina. Seria "cínica", se a atitude crítica fosse canina; chamei-lhe ailúrica, termo que cunhei com base em "ailuros" que, em grego, significa "gato" (ver o post "A companheira"). Tornei-me, portante, um filósofo ailúrico, um amante da sabedoria que a pretende encontrar através dos olhar de um gato.
Esta é a magia do meu cantinho; ou parte dela.
Tem um pequeno montado de sobro, que cuido afincadamente para o livrar da roseira brava, silvas ou vinha. Resultado do labor, há esparsos recantos de jardim e de horta. Tudo biológico. Começa a aparecer, numa excrescência de terreno, um pequeno pinhal em torno do único pinheiro inicialmente existente. Aí perto um pequeno lago com 60 metros quadrados de superfície e a profundidade máxima de um metro onde se desenvolvem nenúfares e caniço do Tejo. É o lar da rã e dos peixes. Estes descendem de um triplo casal adquirido no Horto do Campo Grande, que aí encontraram paz de espírito e alimento para ocupar os tempos vagos em loucas folias amorosas e ocupar cada palmo da água esverdeada com uma mão cheia de descendentes. Não lhes disse "crescei e multiplicai-vos", eles é que entenderam fazer o que mais lhe aprouve. E pelos vistos fizeram-no bem. Um caminho de terra batida serpenteia o interior do terreno: à sombra do arvoredo devém um passeio romântico; no meio do descampado, a "estrada", interrompida a meio com a rotunda de cedros; o conjunto, uma pista de atletismo, mais idealizada que concretizada. Recentemente, o meu filho cadete, que vai fazer quinze anos, acrescentou-lhe uma pista de "dirt jumping", com obstáculos para pôr à prova a resistência da "byke", do seu físico e dos meus nervos.
Depois dos verdes, do lago e dos caminhos, há as propriamente ditas construções. Desde o início, uma pequena casade 18 metros quadrados, que foi de apoio à agricultura e que agora converti no meu "escritório", uma habitáculo com ferramentas, onde me dedico às actividades de carpinteiro, pedreiro, pintor, electricista, canalizador, etc. Os equipamentos e materiais maiores estão desarrumados no contentor, um gigante de aço corrompido pelo oxigénio e comprado ali para as bandas de Santa Apolónia. Este tem uma história interessante, mas isso são tostões para outro negócio. O furo foi feito há quatro anos e fornece a água para as regas. Finalmente a casa e os muros exteriores, para aí com três anos, que permitiram a fixação no lugar e uma espaçosa cozinha, onde treino as minhas recentemente descobertas perícias de chefe.
Não vou recontar em micro-ondas a história do tremontelo, o tal tomilho selvagem que deu o nome a este "site". Mas andando à cata de nome, veio-nos à ideia de que sítio do tremontelo era nome adequado à finalidade. "Tremontelo", não há que demonstrá-lo pois sobram razões para tal. "Sítio", para além de aparentado com o termo inglês "site", de ascendência francesa, e que se refere ao blog, é também a designação que os brasileiros dão às pequenas quintinhas mantidas no interior, em que os citadinos se refugiam sempre que podem. Evoca-me saudosamente a série da Globo do sítio do pica-pau amarelo, com a Tia Nastácia, a Narizinho, a Emília, Dona Benta Encerrabodes de Oliveira, o Pedrinho, o Visconde de Sabugosa, o Lobisomem, o Saci, a Mula sem cabeça, Boitatá, a Cuca, o Anjinho, o Rabicó e espero não me esquecer de ninguém.
Ficou pois de se chamar o Sítio do Tremontelo e havia então que mandar fazer azulejos. Há peripécias interessantes à volta deste assunto, mas isso são munições para outra guerra. Os azulejos apareceram e foram colocados, como ilustra a fotografia. Um pormenor interessante a destacar: a representação de pés de tomilho à esquerda do painel.
Quem seguiu com alguma atenção os espécimes plantados nos canteiros deste hortículo blog, por certo topou que há cerca de oito anos descobri um pequeno canto no mundo, completamente desprezado e com ar miserando, que decidi pôr sob a minha protecção e cuidados. Como acontece em todas as histórias de amor, o sedutor virou seduzido.
Hoje, esse terreno tem uma vida própria, já não depende da minha vida. Pelo contrário, a minha vida depende dele.
Sendo um recanto de isolamento, é um recanto de encontros. Tenho lá amigos muitos; ele são gatos, melros, lagartos, cartaxos, cucos, picapaus, cobras, saca-rabos, ouriços, coelhos, perdizes, uma rã, muitos peixinhos e, recentemente, uma poupa. Tudo selvagem, nada de capoeira. Gatos, então, são uma sucessão de figurões com personalidade vincada, com quem tenho conversas apaixonadas, principalmente com o Tigre, um estudioso dos bípedes humanos, muito interessado em conhecer, e sobretudo em compreender, quer a linguagem falada, quer a mente humana e os seus construtos.
Quando regresso à grande cidade vejo os meus concidadãos com outro olhar; melhor, com um olhar outro. Ideologias, mitos, estereótipos, hábitos, condicionamentos, é tudo peneirado no crivo da crítica felina. Seria "cínica", se a atitude crítica fosse canina; chamei-lhe ailúrica, termo que cunhei com base em "ailuros" que, em grego, significa "gato" (ver o post "A companheira"). Tornei-me, portante, um filósofo ailúrico, um amante da sabedoria que a pretende encontrar através dos olhar de um gato.
Esta é a magia do meu cantinho; ou parte dela.
Tem um pequeno montado de sobro, que cuido afincadamente para o livrar da roseira brava, silvas ou vinha. Resultado do labor, há esparsos recantos de jardim e de horta. Tudo biológico. Começa a aparecer, numa excrescência de terreno, um pequeno pinhal em torno do único pinheiro inicialmente existente. Aí perto um pequeno lago com 60 metros quadrados de superfície e a profundidade máxima de um metro onde se desenvolvem nenúfares e caniço do Tejo. É o lar da rã e dos peixes. Estes descendem de um triplo casal adquirido no Horto do Campo Grande, que aí encontraram paz de espírito e alimento para ocupar os tempos vagos em loucas folias amorosas e ocupar cada palmo da água esverdeada com uma mão cheia de descendentes. Não lhes disse "crescei e multiplicai-vos", eles é que entenderam fazer o que mais lhe aprouve. E pelos vistos fizeram-no bem. Um caminho de terra batida serpenteia o interior do terreno: à sombra do arvoredo devém um passeio romântico; no meio do descampado, a "estrada", interrompida a meio com a rotunda de cedros; o conjunto, uma pista de atletismo, mais idealizada que concretizada. Recentemente, o meu filho cadete, que vai fazer quinze anos, acrescentou-lhe uma pista de "dirt jumping", com obstáculos para pôr à prova a resistência da "byke", do seu físico e dos meus nervos.
Depois dos verdes, do lago e dos caminhos, há as propriamente ditas construções. Desde o início, uma pequena casade 18 metros quadrados, que foi de apoio à agricultura e que agora converti no meu "escritório", uma habitáculo com ferramentas, onde me dedico às actividades de carpinteiro, pedreiro, pintor, electricista, canalizador, etc. Os equipamentos e materiais maiores estão desarrumados no contentor, um gigante de aço corrompido pelo oxigénio e comprado ali para as bandas de Santa Apolónia. Este tem uma história interessante, mas isso são tostões para outro negócio. O furo foi feito há quatro anos e fornece a água para as regas. Finalmente a casa e os muros exteriores, para aí com três anos, que permitiram a fixação no lugar e uma espaçosa cozinha, onde treino as minhas recentemente descobertas perícias de chefe.
Não vou recontar em micro-ondas a história do tremontelo, o tal tomilho selvagem que deu o nome a este "site". Mas andando à cata de nome, veio-nos à ideia de que sítio do tremontelo era nome adequado à finalidade. "Tremontelo", não há que demonstrá-lo pois sobram razões para tal. "Sítio", para além de aparentado com o termo inglês "site", de ascendência francesa, e que se refere ao blog, é também a designação que os brasileiros dão às pequenas quintinhas mantidas no interior, em que os citadinos se refugiam sempre que podem. Evoca-me saudosamente a série da Globo do sítio do pica-pau amarelo, com a Tia Nastácia, a Narizinho, a Emília, Dona Benta Encerrabodes de Oliveira, o Pedrinho, o Visconde de Sabugosa, o Lobisomem, o Saci, a Mula sem cabeça, Boitatá, a Cuca, o Anjinho, o Rabicó e espero não me esquecer de ninguém.
Ficou pois de se chamar o Sítio do Tremontelo e havia então que mandar fazer azulejos. Há peripécias interessantes à volta deste assunto, mas isso são munições para outra guerra. Os azulejos apareceram e foram colocados, como ilustra a fotografia. Um pormenor interessante a destacar: a representação de pés de tomilho à esquerda do painel.
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