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SEXTA-FEIRA, 5 DE DEZEMBRO DE 2008

O que os bichos não dizem mas fazem: 2. a Ratita.

 
Eram vários de riscados e matizes diversos. Ele tinha um ar enfezado. Tenho uma vaga ideia (em geral, só tenho vagas ideias) que "enfezado" significa reles, pequenitotes. Mas olhando de repente para a palavra (porque as palavras vêem-se melhor quando se olha que quando se escuta) entrevejo a etimologia a rachar a palavra ao meio e concordo: ele era realmente um "merdas", um gato sem expressão nem notoriedade.

Pus-lhe o nome de Ratito. Cresceu humilde e submisso à sombra do irmão Laranjinha. Só lhes distingui o sexo quando apareceram ambas pranhas com os mamilos parecendo ventosas alinhadas a apontar o chão.

Ocupou os vãos do contentor para abrigar a ninhada e a Laranjinha teve que ir parir longe. Teve os filhos com competência e apresentou-mos cheia de orgulho. Nunca os largou. De dia, escondia-os na rotunda dos cedros onde podiam apanhar sol sem serem surpreendidos. Trazia-os à hora das refeições e punha-os atrás da sebe de ligustos sabendo que lhes poria a ração a dois palmos das nariguetas. Provava primeiro e afastava-se, voltando apenas para rapar as sobras. Aleitou até tarde.

Brincava muito com eles. Ainda brinca com o Fofinho e a Farrusca. Estes são grandes, anafados, confiantes e espertos a contrastar com os primos que têm metade do seu tamanho, são tímidos e pouco devem à esperteza.

Comparando as duas gatas vem-me à memória as experiências de Harlow (1958) em macacos rhesus com a mãe de pelo e a mãe de arame. É que, para desenvolver adultos saudáveis, o importante não é alimentar mas dar carinho e conforto.

The Nature of Love, Harry F. Harlow, 1958, First published in American Psychologist13, 673-685.

 

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